Neuropsiquiatra Marco Antonio Abud ressalta que é fundamental não julgar a pessoa e mostrar que se importa com ela

Identificar sinais de que uma pessoa próxima pode estar sofrendo de depressão é o primeiro passo para oferecer ajuda. Porém, até mesmo essa oferta deve ser feita de maneira a não expor o familiar ou amigo e também para convencê-lo de que há tratamento e alto índice de recuperação.

Quem explica como ajudar alguém do nosso círculo social que esteja com sinais de depressão é o neuropsiquiatra Marco Antonio Abud, fundador do canal Saúde da Mente no YouTube.

Informar-se

Antes de qualquer conversa, é preciso se informar sobre a depressão. Trata-se de uma doença com variados sintomas, que podem se manifestar de maneira diferente em cada pessoa.

Buscar informações em fontes confiáveis é fundamental para entender o que está acontecendo com aquela pessoa e identificar o que mudou no comportamento e nas atitudes dela.

Escolher o momento adequado

O primeiro passo, orienta o especialista, é encontrar uma oportunidade em que a pessoa vai de fato ouvir o que você tem a dizer.

“É difícil abordar esses temas, mas não faça isso na frente de outras pessoas e não faça isso quando a pessoa estiver ocupada, fazendo outra coisa ou se você está vendo que ela não está no melhor momento.”

Não julgar

Embora haja muito conhecimento disponível sobre a depressão, ela ainda é uma doença muito estigmatizada.

Cientificamente já se sabe que a depressão é uma doença que afeta a neuroplasticidade, que é a capacidade de criarmos novas conexões entre os neurônios (sinapses) nas áreas do cérebro responsáveis pelo prazer, concentração e socialização, salienta o neuropsiquiatra.

Portanto, não se trata de falta de força de vontade e de motivação.

“A própria pessoa com depressão vai se sentir julgada e culpada – isso é o que a depressão conta para ela. Então, a gente vai tentar o mínimo possível deixar entender que as pessoas estão percebendo que ela está assim ou que ela não está querendo se ajudar, basicamente porque isso piora.”

Mostrar que se importa

Abud ressalta que simplesmente falar que a pessoa vai melhorar tende a não ter efeito positivo. “essas coisas são muito vagas e na maioria das vezes não leva a nenhuma mudança”.

Ser solidário e acolhedor é mais efetivo, segundo o especialista.

“Quando a gente tem inimigos abstratos ficamos muito ansiosos. Falar depressão, você precisa ficar melhor, mais feliz… essas coisas são muito vagas e na maioria das vezes não leva a nenhuma mudança. Você está apontando que existe uma coisa específica e que isso é diferente de quem a pessoa é, que é algo que está acontecendo agora, mas a pessoa não é assim.”

Dar os primeiros passos

“Falar tem um peso muito menor do que fazer”, ressalta Abud. Segundo o médico, sempre que possível, ajude a pessoa em busca de informações, de um médico ou psicólogo, e leve-a às primeiras consultas.

“Dar esses primeiros passos junto no início é muito mais importante do que tentar ficar convencendo.”

Na rede pública, os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) oferecem tratamento para pessoas com depressão. Também é possível ser encaminhado para serviços especializados após passar em consulta em uma UBS (Unidade Básica de Saúde).

Muitas universidades também oferecem serviço de atendimento psicológico gratuito a quem não tem condições de arcar com o tratamento.

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